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Crise externa não é principal causadora da retração na economia brasileira
24/03/2016 09:03 em Economia e Negócios
Estudo do Ceper/Fundace mostra que os efeitos externos são responsáveis por, no máximo, 36,4% do atual cenário de crise pelo qual o Brasil atravessa; erros na economia e corrupção são os grandes vilões

 

A crise externa não é a principal causadora da retração do crescimento da economia brasileira. Dados do Boletim Conjuntura Econômica Especial do Ceper/Fundace mostram que os efeitos externos são responsáveis por, no máximo, 36,4% do atual cenário de crise pelo qual o País atravessa. O restante é decorrente de causas internas, com ênfase nos erros de medida econômica cometidos e na corrupção.

Elaborado pelo pesquisador Luciano Nakabashi, o Boletim Conjuntura Econômica Especial faz uma análise da economia brasileira desde o início dos anos 1990 até 2018, baseado em previsões e dados do Banco Mundial.

O levantamento compara o período de melhor desempenho recente do Brasil e da América Latina – que vai de 2004 a 2011 – com o período posterior, de 2012 a 2018. Os dados apontam que de um período para o outro, a retração do crescimento chega a 95,6%, passando de 4,39% para 0,19% do primeiro para o segundo período, enquanto os números da média mundial são de 2,76% e 2,66%, respectivamente.

Ao excluir o Brasil do restante da América Latina, a pesquisa mostra que a desaceleração dos países caiu de 3,92% para 2,55%, ou seja, uma retração de 34,8%. Isso foi feito para isolar os efeitos da crise externa no Brasil, ou seja, foi feita uma suposição que a desaceleração do restante dos países da América Latina foi decorrente apenas dos efeitos da crise internacional. “Somente com os efeitos externos, o Brasil ainda estaria crescendo a uma taxa média de 2,86%. Ou seja, os efeitos são responsáveis por, no máximo, 36,4% da retração do crescimento da economia brasileira”, explica Nakabashi.

Isso prova, segundo o pesquisador, que as causas internas, como os erros de medida econômica e a corrupção, seriam os grandes responsáveis por, pelo menos, 64% da retração. Como mostra o Boletim, os erros de medida econômica criaram déficits elevados nas contas públicas, com efeitos na dívida pública, o que gera incertezas por parte dos investidores. Os efeitos inflacionários dessas medidas têm pressionado os juros da economia, piorando o déficit e o montante de investimentos.

Outra causa interna apontada pelo Boletim, a corrupção, também tem uma parcela de contribuição no desempenho negativo da economia brasileira. “A corrupção possui efeitos nocivos, pois corruptos e corruptores realizam esforços para enfraquecer as instituições que fiscalizam as atividades econômicas e sociais de forma a ganharem mais com atividades ilegais com menos risco”, descreve Nakabashi em seu estudo.

O pesquisador afirma também que o desvio de recursos reduz os investimentos. “Essa redução impacta diretamente na infraestrutura, um dos principais gargalos para um bom desempenho do País no longo prazo. É preciso focar em reformas institucionais para coibir atos de corrupção e para dar sustentabilidade na trajetória da dívida pública para que o País possa voltar a crescer de forma robusta e consistente”, diz Nakabashi.

O Boletim Conjuntura Econômica Especial está disponível para acesso no site da Fundace: www.fundace.org.br/_up_ceper_boletim/ceper_201603_00198.pdf

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