Fundação Bienal de São Paulo anuncia programação especial para a última semana da 34ª Bienal - Faz escuro mas eu canto
30/11/2021 13:02 em Literatura
Entre 30/11 e 5/12, a mostra conta com uma agenda intensa, sendo encerrada pelo sul-africano Neo Muyanga com uma performance que desdobra a que inaugurou esta edição da Bienal, em fevereiro de 2020
No dia 2/12, artistas indígenas se reúnem para apresentar rituais e ativações de obras em homenagem a Jaider Esbell
Em andamento desde 8 de fevereiro de 2020, quando aconteceu a performance A Maze in Grace , de Neo Muyanga, e teve início uma exposição individual de Ximena Garrido-Lecca , a 34ª Bienal de São Paulo - Faz escuro mas eu canto chega ao fim no próximo domingo, 5 de dezembro de 2021. Ao longo desses quase dois anos, o Pavilhão da Bienal recebeu também a exposição Vento , entre novembro e dezembro de 2020, e, desde 4 de setembro de 2021, a grande exposição que intitula esta edição, com mais de 1100 obras de 91 artistas e uma intensa agenda de programação pública. Além disso, mais de vinte instituições parceiras correalizaram exposições, performances e outros eventos, expandindo a 34ª Bienal também no espaço, bem como no tempo.
Para a última semana de exposição, a programação de performances e círculos de arte é complementada por apresentações musicais, um debate sobre arte conceitual, uma conversação especial com Kaká Werá, importante liderança indígena, e a performance de encerramento proposta por Neo Muyanga. E ainda, na quinta, 2 de novembro, artistas indígenas se reúnem para retomar o Ciclo Bienal dos Índios, idealizado por Jaider Esbell, homenageando a sua vida no dia que marca um mês de seu falecimento.
Confira a programação completa da semana abaixo. Todas as atividades são gratuitas, assim como a visitação da exposição.
Ciclo Bienal dos Índios
Iniciado em outubro, o ciclo de programas públicos Bienal dos Índios, iniciativa conjunta da Fundação Bienal de São Paulo, MAM São Paulo e Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, foi temporariamente suspenso em respeito ao luto de seus participantes após o falecimento de Jaider Esbell, idealizador do programa e importante articulador da arte indígena contemporânea no Brasil. Após conversas com os convidados que integram esse programa, no dia 2 de dezembro, quinta-feira, a 34ª Bienal convida para um dia de encontros que homenageiam a vida de Esbell e manifestam a importância da continuidade dos caminhos que se alargaram com sua obra e sua postura como promotor da arte indígena contemporânea. Confira a programação abaixo:
17h: Daiara Tukano convida Cristine Takuá, Carlos Papa, Denilson Baniwa e Bú'ú Kenedy para ativação de sua obra Dabucuri no céu
Os convidados irão se reunir e alternar suas vozes e seus cantos ocupando o centro da instalação de Daiara Tukano.
Duração aproximada: 120 minutosOnde: obra Dabucuri no céu [3º pavimento]
19h: Fala-performance de Gustavo Caboco junto à obra Extensão Wapichana
O artista trará fragmentos de textos e falas que ecoam sua trajetória recente e seus diálogos com Jaider Esbell.
Duração aproximada: 30 minutosOnde: obra Extensão Wapichana [2º pavimento]
19h30: Apresentação de Xondaro Kuery Kaguy Ijá [Guerreiros Guardiões da Floresta]
A representação do Ritual Xondaro compreende o nhande rekó (modo de vida e cultura) do povo Guarani Mbya. É um jeroky (dança) também realizado fora da Opy (casa de reza). Uma técnica corporal embalada em um ritmo onde se ensina a defesa e o fortalecimento do corpo e do espírito do xondaro (guerreiro) que dança ao som do Mbaraká (violão), do rave’i (rabeca) e do angu apu (tambor).
O ritual Xondaro é um treinamento que os antigos faziam para ter reflexos e resistência, uma dança para aprender a lutar, uma preparação para a guerra, para proteger o povo Guarani dos ataques dos juruá (homem branco) e também para viver harmoniosamente com a família natureza. Ao Ritual se seguirá uma fala do grupo Xondaro Kuery Kaguy Ijá [Guardiões da Floresta], formado por guerreiros do povo Guarani Mbya da Terra Indígena Jaraguá, localizada em São Paulo (SP).
Duração aproximada: 60 minutosOnde: obra deposição [1º pavimento]
Obs: a realização do último encontro do programa As Vozes dos Artistas estava prevista para acontecer na noite de 2 de dezembro, mas o evento foi suspenso para dar lugar à programação acima descrita.
Conversa aberta com Jacopo Crivelli Visconti e Anthony Huberman
O curador geral da 34ª Bienal de São Paulo, Jacopo Crivelli Visconti, conversa com Anthony Huberman, diretor e curador do CCA Wattis Institute (São Francisco, EUA), sobre arte conceitual e crítica institucional, temas abordados em várias das exposições concebidas por Huberman ao longo da sua carreira.
O ponto de partida da conversa é uma obra anônima da 34ª Bienal de São Paulo que consiste na doação, realizada por uma pessoa convidada como artista desta edição, da verba que seria utilizada para a produção de seu trabalho (que compreenderia seu honorário de participação, suas viagens de pesquisa e a produção da obra em si) para famílias de comunidades vulneráveis em São Paulo severamente afetada pela recente pandemia de Covid-19.
A partir deste caso, serão abordadas questões como: Quais são os limites de uma obra de arte? Como podem uma obra ou uma exposição responder a questões sociais e políticas em tempo real? Quais são os dispositivos legais implicados na redistribuição de fundos públicos culturais para ações de cunho social?
Quando: 3/12 (sexta), 18hLocal: obra deposição, 1º pavimentoDuração: 60 minutosO evento contará com tradução simultânea
Conversação com Kaká Werá
Proposta pelas artistas Vânia Medeiros e Beatriz Cruz, a série Conversações é um dos eixos de ativação da obra deposição, de Daniel de Paula, Marissa Lee Benedict e David Rueter, que ressignifica uma antiga roda de negociações da bolsa de valores de Chicago a partir de seus usos na Bienal.
No último encontro da série, a roda recebe Kaká Werá para falar sobre sonhos a partir das tradições ancestrais dos povos originários. A conversa articula reflexões a partir do contexto atual e da importância dos sonhos como ferramenta sensível e política. Kaká Werá é escritor, professor, terapeuta e colunista de vida simples. Há mais de 25 anos, é um facilitador de processos de autoconhecimento, tendo por base a sabedoria da tradição tupi-guarani. Tornou-se um dos precursores da literatura indígena no Brasil e é uma autoridade na difusão dos saberes e valores ancestrais.
Quando: 4/12 (sábado), 16hLocal: obra deposição, 1º pavimentoDuração: 60 minutos
A Grace Note: performance de Neo Muyanga com Coletivo Legítima Defesa
A Grace Note é o terceiro capítulo do projeto de Neo Muyanga na 34ª Bienal de São Paulo. O primeiro foi a performance A Maze in Grace, apresentada na abertura da exposição, em fevereiro de 2020, que deu origem à instalação atualmente exibida no Pavilhão Ciccillo Matarazzo; o segundo capítulo é o vinil A Grace Project, lançado neste ano na Bienal de Liverpool, instituição parceira da Fundação Bienal de São Paulo em ambos momentos da obra.
A Grace Note [Nota de graça] é concebida como um ritual de agradecimento no qual Muyanga executa uma partitura em sintetizadores modulares acompanhado por membros do Coletivo Legitima Defesa, que declamam poesias de Maurinete Lima. O ritual culmina com um canto coletivo liderado por Muyanga, com a participação do público, do emblemático hino Amazing Grace (escrito em 1772 pelo ex-traficante de escravos e posteriormente abolicionista, John Newton), condensando uma viagem de reflexão de dois anos sobre o impacto dessa música nos movimentos para os direitos civis de pessoas negras no mundo. A performance inclui o canto de partes da composição produzida por Muyanga a partir da partitura original de Amazing Grace, publicada pela editora IKREK.
Maurinete Lima nasceu em 1942 em Recife e faleceu em 2018. Socióloga, poeta, ativista, professora da UFRN, foi mestra pela USP e técnica da Sudene, além de fundadora da Frente 3 de Fevereiro. Começou a frequentar slams e saraus em 2013, e escreveu os poemas posteriormente reunidos em Sinhá Rosa. Atuou no movimento feminista interseccional.
Quando: 5/12 (domingo), 18hLocal: obra deposição, 1º pavimentoDuração: 60 minutos
 
The Complete Works [A obra completa]: performance de Nina Beier
Ao longo de toda a Bienal, o público pôde observar a performance The Complete Works [A obra completa] da artista Nina Beier, em que bailarinas e bailarinos aposentados apresentam, de memória, todas as coreografias de sua carreira, reencenando-as em ordem cronológica e sem interrupções.
Quando: 3/12 (sexta), às 16h; 4/12, às 18h e 5/12, às 16hLocal: primeiro pavimentoDuração: 60 minutos
Time Has Fallen Asleep in the Afternoon Sunshine [O tempo adormeceu ao sol da tarde]: performance de Mette Edvardsen
Também realizada ao longo de todo o período expositivo, a performance Time Has Fallen Asleep in the Afternoon Sunshine [O tempo adormeceu ao sol da tarde]da norueguesa Mette Edvardsen, consiste na memorização de livros por performers, que os recitam para os visitantes da Bienal. A obra é inspirada no célebre romance de Ray Bradbury, Farenheit 451, no qual o autor imagina uma sociedade em que qualquer indício de conhecimento é considerado uma ameaça à felicidade do ser humano. Enquanto livros são proibidos e queimados (o título se refere à temperatura na qual os livros queimam), um grupo luta clandestinamente contra essa repressão, memorizando seu conteúdo e transmitindo-o oralmente para preservá-lo. Para participar, o público pode se inscrever gratuitamente no térreo do Pavilhão da Bienal.
Quando: 30/11 (terça); 1/12 (quarta); 2/12 (quinta); 3/12 (sexta); 4/12 (sábado) e 5/12 (domingo), das 10h às 18h30Local: térreoDuração: 30 minutosMais informações neste link.
Círculo de arte #13: A ronda da morte, de Hélio Oiticica
Os Círculos de Arte consistem em bate-papos com a equipe de mediação da 34ª Bienal sobre os enunciados que organizam a exposição, tendo como objetivo a construção compartilhada de sentidos sobre as obras expostas e as possíveis relações entre elas. A ação é inspirada nos princípios de autonomia, horizontalidade e dialogicidade propostos por Paulo Freire. Os encontros acontecem semanalmente e a participação se dá mediante inscrição prévia no site da Bienal. Na última semana da exposição, o encontro é dedicado ao enunciado A ronda da morte , de Hélio Oiticica e às obras ao seu redor.
Em uma entrevista feita após seu retorno do exílio, Hélio Oiticica falou sobre a tristeza de perceber que já não poderia encontrar muitos dos amigos que havia feito em meados da década de 1960 no samba e nas favelas do Rio, atribuindo essas ausências ao aniquilamento sistemático de uma parcela da população por parte do Estado: "Sabe o que eu descobri? Que há um programa de genocídio, porque a maioria das pessoas que eu conhecia na Mangueira ou estão presas ou foram assassinadas". No ano seguinte, abalado pela brutal execução de mais um de seus amigos, Oiticica escreveu para a fotógrafa Martine Barrat uma carta em que descrevia um "parangolé-área" chamado A ronda da morte. No formato de uma tenda de circo negra, teria luzes estroboscópicas e música tocando em seu interior, um ambiente convidativo para que as pessoas pudessem entrar e dançar. Enquanto a festividade se desenrolasse no seu interior, o perímetro da tenda seria cercado por homens a cavalo, que dariam voltas em torno dessa área emulando uma ronda.
Quando: 2/12 (quinta) e 4/12 (sábado), às 16hPonto de encontro: espaço de mediação do térreoDuração: 120 minutosMais informações e inscrições aqui
Música na marquise da Bienal
Como forma de ampliar o contato da Bienal de São Paulo com outras linguagens artísticas e torná-la ainda mais próxima do público do Parque Ibirapuera, a Fundação Bienal de São Paulo tem organizado apresentações de jazz, R&B e Bossa Nova às sextas e sábados em seu espaço externo de gastronomia. Para a última semana, a programação ganha um dia extra e acontece também no domingo, 5/12. A participação é gratuita!
Quando: 3/12 (sexta), 17h; 4/12 (sábado), 15h; 5/12 (domingo), 14hLocal: marquise da Bienal, na área de alimentação externa (entrada sudeste do edifício)Duração: 2 horas (sexta); 3h (sábado e domingo)
34ª Bienal de São Paulo - Faz escuro mas eu canto
De 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021ter, qua, sex, dom e feriados: 10h - 19h (entrada até 18h30)qui, sáb: 10h - 21h (entrada até 20h30)Fechado às segundasEntrada gratuitaAcesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19, impresso ou on-linePavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera
COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!