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Com o tema "Comunidades Imaginadas", 21ª Bienal Sesc_Videobrasil amplia debate sobre negritude, resistência e imaginação
27/09/2019 00:54 em Arte

Obras de artistas da América Latina, África, Ásia e Oceania revelam como a arte lida com diferenças, exploração e apagamentos históricos

Obra da série #JÁ BASTA!, de No Martins
Link para imagens em alta: www.flickr.com/gp/a4eholofotecultura/345m0k

Diante da ascensão dos nacionalismos e das disputas que moldam nosso tempo, a 21ª edição da Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil parte do tema "Comunidades Imaginadas" para privilegiar formas de vida, saberes e relações muitas vezes silenciadas

Dentro desse universo, as questões raciais abordadas por artistas de diferentes países do mundo parecem nos lembrar das gigantescas diferenças, explorações e apagamentos históricos. Mas, também, da capacidade de resistir e imaginar outras formas de existência a esse cenário.

Esta reinvenção é nítida em obras como a do artista francês Emo de Medeiros e sua ressignificação das palavras; a do congolês George Senga, que traça um paralelo entre as disputas pelo território urbano de Lubumbashi (Congo) e da Praia Grande (São Paulo); a do artista do Benim Thierry Ossou, que revisita os escombros do Museu Nacional do Rio de Janeiro, marcado pela destruição do incêndio de setembro de 2018, e do Memorial Cemitério dos Pretos Novos, numa arqueologia de passados esquecidos e presentes reivindicados; a do artista paulista No Martins, que apresenta a série #JáBasta, inspirada pelas grandes campanhas nas redes sociais, atenta à violência policial contra jovens negras e negros nas periferias das grandes cidades brasileiras; em um trabalho inédito, a artista Rosana Paulino refaz os caminhos da memória e do afeto em uma videoinstalação convocando as mulheres da sua história para serem cuidadas e acarinhadas nesse diálogo que atravessa os séculos.

Obras
Emo de Medeiros
Chromatics movement I e Movement II, 2017-2019 | Instalação composta de vídeo e papel
Um software combina aleatoriamente duzentos substantivos mais comuns no idioma inglês compostos por entre três e cinco caracteres, gerando dez mil possíveis pares de palavras. Em seguida, adiciona de maneira randômica as palavras "preto" e "branco", gerando assim oitenta mil parágrafos possíveis. Com esse dispositivo, o artista evidencia mecanismos de racialização subjacentes às lógicas automáticas do mar de algoritmos que mediam relações sociais contemporâneas no universo digital, criando apartheidssubconscientes através da naturalização da linguagem. A obra participa da poética de Medeiros que mobiliza expedientes lúdicos, misturando leveza formal e densidade de conteúdo político.

George Senga
Cette maison n´est pas à vendre et à vendre, 2016 | Fotografia; nove trípticos

Duas situações de disputa pelo território urbano compõem a série. Em Lubumbashi, na República Democrática do Congo, o fotógrafo se deparou com diversas casas que expõem o recado "Cette maison n'est pas à vendre" [Esta casa não está à venda] pintado de improviso em suas fachadas. Objetos de conflitos familiares causados por disputas de herança, essas casas foram fotografadas por fora e por dentro, registrando as lembranças e o apego dos moradores a suas habitações. Já na cidade de Praia Grande (no litoral do estado de São Paulo, Brasil), em que o cenário urbano está se alterando rapidamente, o fotógrafo registrou fachadas e arredores de casas que estão, sim, à venda. Nesse caso, as memórias e os afetos que os imóveis poderiam evocar, assim como suas paredes, desaparecerão em breve.

No Martins
#JABASTA, 2019 | Acrílica sobre tecidos diversos
Com manchetes de jornal e estatísticas de violência contra a população negra estampadas sobre retratos em cores vibrantes, fortemente inspirados pela estética urbana, as pinturas de No Martins funcionam como denúncia e grito de alerta. A incrição #Jábasta, inspirada pelas grandes campanhas nas redes sociais, atenta para a violência policial contra jovens negras e negros nas periferias das grandes cidades brasileiras, assumindo uma posição de resistência.

Rosana Paulino
DAS AVÓS, 2019 | Videoinstalação
O vínculo entre o trabalho e a condição de mulher negra é crucial na produção de Rosana Paulino. Quem seriam suas ancestrais em um país marcado pela escravidão? Nas projeções em looping, uma jovem moça trava contato com imagens de mulheres negras do Brasil colonial, numa relação de cuidado com as representantes da ancestralidade. Paulino alinha essas personagens à sua própria história de vida, reconstruindo os laços perdidos por meio de um resgate simbólico das inúmeras memórias usurpadas.

Thierry Ossou
What is left of the sugar cubes, 2019 | Videoinstalação
A obra comissionada pela 21ª Bienal foi realizada a partir de uma estadia de Thierry Oussou no Brasil. Ao longo dos meses de pesquisa, o artista reuniu depoimentos de diversos profissionais ligados ao Museu Memorial Cemitério dos Pretos Novos e ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Propondo uma reflexão em torno da memória e dos afetos que circundam preservação e difusão, o vídeo toma o açúcar como metáfora da história, levando em conta o caráter do patrimônio perdido e mantido pelas duas instituições, e buscando compreender apagamentos e permanências do passado no presente.

21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades Imaginadas
A 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades Imaginadas será realizada de 9 de outubro de 2019 a 2 de fevereiro de 2020, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, reunindo mais de 60 obras, com 55 artistas de 28 países, entre vídeos, pinturas, fotografias e instalações. Juntos, a diretora artística Solange Farkas, o trio de curadores Gabriel Bogossian, Luisa Duarte e Miguel López e os membros do júri de seleção Alejandra Hernández Muñoz, Juliana Gontijo e Raphael Fonseca analisaram 2.280 inscrições, de 105 nacionalidades para selecionar obras advindas do Brasil, América Latina, África, Ásia, Oriente Médio e Oceania.

O título-tema Comunidades Imaginadas, emprestado do estudo de Benedict Anderson, refere-se aos diversos tipos de organização social e comunitária que existem às margens dos Estados-nação como comunidades indígenas, religiosas, de refugiados, organizações em defesa pela liberdade sexual e de pensamento, entre tantas outras que estarão presentes nesta edição.

21a Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades Imaginadas
Abertura: 9 de outubro, quarta-feira, às 19h
De 9 de outubro de 2019 a 2 de fevereiro de 2020
De terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Sesc 24 de Maio
www.bienalsescvideobrasil.org.br
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Sesc 24 de Maio
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